Informação policial e Bombeiro Militar

sexta-feira, 13 de julho de 2012

"Frase é rotina: "Sabe com quem está falando?


Agentes de trânsito são alvos de intimidações e até de ameaças de motoristas infratores

Elton Lyrio
emorati@redegazeta.com.br

A Constituição diz que a lei é igual para todos, mas ainda há quem tente levar vantagem quando é parado numa blitz de trânsito, usando do fato de ocupar algum cargo público ou conhecer alguém influente. Casos como o de uma desembargadora do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo que discutiu com policiais ao ser parada na madrugada de ontem mostram que a famosa frase “Você sabe com quem está falando?” é ainda frequente.
O gerente de operacional da Guarda Municipal de Vitória, José Roque Nascimento, conta que esse tipo de situação é mais comum nas proximidades de prédios públicos, como no Centro da Capital. “Na maioria das vezes, as intimidações são um pouco veladas. Esses motoristas chegam na calma dizendo o que são, se são juízes, promotores, funcionários da prefeitura...”, relata.
Os agentes de trânsito de Vila Velha também passam por situações como essa, e o secretário de Transporte e Trânsito do município, Bruno Lorenzutti, é enfático. “A orientação é que o guarda cumpra o seu papel, com calma e educação, independentemente de o motorista ser quem quer que seja”, frisou.
Flávio Gava, presidente da associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar, reconhece que as tentativas de intimidação fazem parte do trabalho, principalmente de quem atua no Batalhão de Trânsito, mas reforça: “O procedimento é igual para todos”. Ele mesmo diz que já vivenciou uma situação desse tipo. “Foi com uma juíza que acabou invadindo uma área que estava fechada com cone e tentou me intimidar”, conta.
Outro policial do Batalhão de Trânsito relata já ter sido ameaçado por um promotor. “Ele não quis fazer o teste de embriaguez e ameaçou me levar à corregedoria. Isso sempre tem, porque a gente aborda pessoas de todo o tipo”, diz. Em São Paulo, o carro da filha da desembargadora foi parado.

foto: Edson Chagas

Agente já foi alvo de intimidações
Agente da Guarda Municipal de Vitória há nove anos, Jemerson Barreiros já passou pelo menos duas vezes por tentativas de intimidação. Num dos casos, um advogado chegou a empurrá-lo, e até a polícia foi acionada. “Ele estava falando ao celular enquanto dirigia. Eu apenas adverti verbalmente a esposa dele, e ele já saiu do carro exaltado, não queria conversa. Dizia que era advogado”, conta.
Em outra situação, ele estava trabalhando em uma rua interditada para um evento quando foi abordado por um homem. “Ele queria colocar o carro em um lugar que não podia. Eu disse que não. Ele disse que era juiz, mas eu respondi que a lei era para todos”, recorda o agente, contando que dessa vez o final foi feliz. “Ele reconheceu e procurou outro lugar”, conta.

Mãe e filha acusadas de desacato
A desembargadora Yara Ramires da Silva de Castro, de São Paulo, e a filha dela, Roberta Sanches de Castro, 39 anos, envolveram-se numa discussão com policiais militares numa blitz realizada na Avenida Paulista, às 23h45 de quarta-feira.

O carro em que estavam – um Chery vermelho, conduzido por Roberta – foi parado, e a condutora foi convidada a soprar o bafômetro. “Isso é uma palhaçada. Mãe, mostra para ele quem somos”, disse Roberta à desembargadora, segundo os policiais.

A magistrada teria descido do veículo e jogado seu documento de identificação contra a policial. A filha da magistrada ainda teria agredido PMs. Duas mulheres que também estavam no carro deram razão aos policiais e pegaram uma carona. Mãe e filha foram encaminhadas para a Corregedoria da PM. Segundo os policiais, elas responderão por desacato.

análise
Atitude é um entulho na formação cultural do brasileiro

Atitudes como essas são como um entulho, um ranço da ditadura na formação cultural elitista da sociedade brasileira que ainda persiste e que causa espanto. Num processo em que as pessoas vão saindo da submissão e garantindo os seus direitos - como acontece com as mulheres e com as pessoas que têm necessidades especiais - ainda há por parte de operadores do Direito uma visão de que por ter um cargo ou um diploma merecem ter certos privilégios. É algo que merece reflexão pois é uma maneira de tratar os outros como qualquer coisa.

Erly dos Anjos, sociólogo

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