Informação policial e Bombeiro Militar

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Presos assessores de deputado e oficiais da PM em operação contra o contrabando no Paraná



Rafael Moro Martins

Do UOL, em Curitiba 



Uma operação deflagrada nesta quinta-feira (25) no Paraná prendeu ou deteve para esclarecimentos oficiais graduados da Polícia Militar e assessores de um deputado estadual suspeitos de participarem de um esquema de corrupção que facilitava o contrabando de cigarros do Paraguai.
O assessor, que trabalha no gabinete do deputado estadual Valdir Pugliesi (PMDB), foi preso pela manhã e é suspeito de liderar o esquema – dois colegas de trabalho dele também participariam da quadrilha, segundo a PF (Polícia Federal). Um coronel (topo da carreira na PM) e dois tenentes-coronéis foram detidos para esclarecimentos e liberados em seguida.
Além deles, a operação Fractal, como foi batizada, também deteve um major, dois capitães e três soldados da PM, um delegado e um investigador da Polícia Civil. Até às 14h desta quinta, 24 dos 29 mandados de prisão haviam sido cumpridos.
A PF não revelou nomes, sob o argumento de que a investigação está protegida por sigilo judicial. Não há evidências da participação do deputado em cujo gabinete trabalhavam os assessores.
Dois servidores da Receita Estadual, dois da Receita Federal e um da própria PF – todos lotados no Paraná – foram detidos para prestar esclarecimento e liberados em seguida. 
"Estimamos que eram 60 pessoas os participantes, entre os membros da quadrilha e os servidores que participaram do esquema de corrupção de alguma forma. A investigação tem dois anos, com muitos flagrantes durante esse período. Certamente, o grupo movimentou valores na casa dos milhões de reais", disse ao UOL o delegado regional de combate ao crime organizado, Igor Romário de Paula.
A operação Fractal envolve cerca de 250 policiais federais, que cumprem 40 mandados de busca e apreensão, 23 mandados de prisão preventiva, seis mandados de prisão temporária e 29 mandados de condução coercitiva (ou seja, a obrigação de acompanhar os agentes à delegacia para prestar esclarecimentos).
Foram apreendidos 13 carros de luxo em Curitiba, computadores, joias, dinheiro e armas de fogo –-além de um silenciador, artigo proibido pela lei brasileira.
As ordens judiciais estão sendo executadas nas cidades paranaenses de Curitiba, Maringá, Medianeira, Foz do Iguaçu, Faxinal e Matinhos; em Porto Alegre e Canoas, no Rio Grande do Sul, e em Laguna e Joinville, em Santa Catarina.

A investigação

"O trabalho começou para investigar uma quadrilha de contrabandistas que agia na região Oeste do Paraná, na fronteira com o Paraguai, que trazia principalmente cigarros. Durante as investigações, percebemos que o grupo contava com conivência e apoio de pessoal da Polícia Rodoviária Estadual. Indo a fundo, vimos que o grupo era maior, e tinha à frente um assessor parlamentar e dois colegas dele, esses com papel secundário", explicou o delegado.
"Com grande influência política, [o assessor] influenciava as nomeações e indicações de policiais em comandos regionais e postos da estrada", afirmou de Paula. "[Nas rodovias, os] Policiais facilitavam o trânsito de mercadorias e pessoas. A mola propulsora da quadrilha era o contrabando, principalmente de cigarros, vendidos em Curitiba e outras grandes cidades, inclusive São Paulo", revelou o delegado responsável pela operação, José Alberto de Freitas Iegas.
"Os policiais envolvidos, de todos os níveis, se beneficiavam do esquema, inclusive oficiais graduados da cúpula da PM, que indicaram comandantes regionais", disse de Paula. "Trata-se de policiais que tiveram postos importantes na corporação, mas que não têm ligação com a atual cúpula da polícia."
O atual comandante da PM, o coronel Roberson Luiz Bondaruk, assumiu o posto em novembro de 2011. O secretário da Segurança Pública do Paraná, Cid Vasques, que participou da entrevista coletiva da PF acompanhado de Bondaruk, defendeu o atual comando da PM. "[Numa das gravações de conversas da quadrilha, se] Diz que com esse comandante vai ficar difícil, porque com ele não tem acerto", falou.
Por conta disso, segundo Iegas, "existia um movimento muito forte, entre os investigados, para derrubar o comando da PM, pois sob ele não conseguiam influir em nomeações como desejavam."
"As interceptações feitas pela PF mostram tráfico de influências e pressão para haver uma troca no comando", corroborou Bondaruk, ao UOL. "Os policiais envolvidos pedem a troca do comando. Mas a quem era feita esse pedido não fica totalmente claro, na parte da investigação a que tivemos acesso."
Apesar de citados em conversas telefônicas interceptadas pela PF, não há "indícios concretos nem suspeitas" contra deputados estaduais. A reportagem procurou o deputado Valdir Pugliesi para que comentasse a situação de seus assessores, mas não teve resposta ao pedido de entrevista o fechamento deste texto, às 17h.
Procurada, a assessoria do governo do Paraná informou que apenas as polícias Civil e Militar comentariam o caso – embora a Receita Estadual também tenha tido um servidor detido para esclarecimentos.
A PM irá abrir procedimento interno de investigação, que pode resultar em expulsão dos envolvidos. Os que não estão presos ficam afastados até conclusão dos processos. A Polícia Civil foi contatada, mas prestou informações até o fechamento da matéria.
A Receita Federal informou que ainda não foi notificada oficialmente pela PF, mas que encaminhará o caso para a corregedoria do órgão. A PF não informou quais sanções poderá sofrer o agente suspeito de participação no esquema.

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