Autor: Caroline Gois (Twitter: @goiscarol)Data: 24/11/2013 15h57Categoria : PolíciaTags: arma, crime, Salvador, Bahia, SSP
Manhã de sábado, 23 de novembro, 9h49, bairro da Chapada do Rio Vermelho, Salvador. As casas trancafiadas e o comércio com as portas fechadas revelam o medo e o terror no qual os moradores da região vivem em plena luz do dia. Na manhã de hoje, o site Bocão News recebeu fotos que mostam o retrato da violência que assola a capital baiana e se espalha por todo o estado. 
 
Como quem não tem nada a temer, um homem já identificado com o prenome de Mailson, desfila pela região com um fuzil, modelo calibre 7.62, de uso exclusivo das Forças Armadas. Em outra imagem, é possível visualizar outros dois rapazes - um com uma metralhadora e outro com uma espingarda. Sem ninguém ao redor - nem moradores e nem mesmo a polícia, eles brincam de assustar. Gritam para que ninguém saia, avisam quem manda e fincam o toque de recolher no bairro.
 
De posse das fotos, concedidas por um leitor do Bocão News e morador da localidade, a reportagem procurou o secretário de Segurança Pública do Estado da Bahia, Maurício Teles Barbosa, que solicitou a procura pelo comandante que cobre a área, Jutamar Oliveira, a fim de que este pudesse comentar o assunto, mas preferiu não emitir opinião sobre o caso.
 
Já em contato com o comandante Jutamar  - responsável pela 40ª Companhia Independente da Polícia Militar e coordenador das três bases da localidade, Chapada/ Nordeste de Amaralina e Santa Cruz - o oficial confirmou a situação. "Este Mailson é traficante e homicida. Desde a morte de outro traficante há dois meses atrás, ele (Mailson) quer tomar o espaço. Mas, não existe toque de recolher", afirmou Oliveira ao Bocão News.
 
 
 
Ainda conforme o comandante, há patrulhamento a pé, além do reforço das Rondas Especiais (Rondesp) que ajudam a combater o crime na Chapada. "Contamos também com as viaturas das bases. Porém, sabemos que o tráfico não se extingue como um passe de mágica. Exige trabalho da Inteligência", ressaltou, informando que o homem que aparece com o fuzil e identificado como Mailson já está sendo procurado. "Ele fez questão de ser visto porque é uma forma de intimidar a vizinhança. Mas, já há um trabalho com a DHPP para que possamos efetuar a prisão dele", pontuou. Oliveira complementou ainda que operações estão sendo realizadas desde a semana passada na região para combater a guerra entre gangues. "O trabalho para combater estas gangues rivais é difícil. Às vezes, a população que paga por isso e estamos sempre no combate. Não vai demorar muito para que a prisão dele aconteça", garantiu o comandante.

Entretando, as operações e combates incansáveis da polícia parecem não abater ou diminuir a ação do tráfico de drogas e da criminalidade. Assaltos a agências bancárias do interior estão sendo registrados com frequência, arrombamentos a caixas eletrônicos da capital não se apresentam mais como novidade e, ainda assim, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública, Salvador apresentou em outubro uma diminuição de 13% nos Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs) – homicídio, latrocínio e lesão corporal seguida de morte -, comparando ao mesmo mês do ano passado. Na Região Metropolitana de Salvador (RMS), na mesma comparação, a redução foi de 13,8% nos crimes contra a vida. No acumulado do ano (janeiro a outubro), na capital, a queda foi de 13,2% nos CVLIs, enquanto o índice na RMS recuou 17,3%.

Estes números, todavia, contrariam a realidade apontada no último feriado da Proclamação da República, marcado por execuções. De acordo com o boletim da própria SSP, entre sexta-feira (15) e o domingo (17), 35 pessoas foram mortas em Salvador e na Região Metropolitana. Os dados apontam que a maioria das vítimas são jovens e do sexo masculino.
 
E, desta forma, a cada manhã, a população transforma vidas em estatísticas, revólver se transforma em fuzil e segurança soa com a temeridade daquilo que ainda custa a chegar.

Nota originalmente postada às 16h do dia 23

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