A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) relatou à Polícia Civil nesta terça-feira (28) que testemunhas das 12 mortes em sequência registradas em Campinas (SP) neste mês estão sendo ameaçadas. O presidente da comissão, Adriano Diogo, pediu ao diretor do Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo Interior 2 (Deinter-2), Licurgo Nunes Costa, que elas sejam incluídas no Programa de Proteção às Testemunhas.

O pedido foi feito informalmente durante encotro que reuniu Diogo, Costa e outros parlamentares. Na saída da reunião, o deputado estadual se negou a comentar qual foi a resposta da Polícia CIivil em relação à solicitação. Os relatos de ameças foram feitos pelas próprias testemunhas a vereadores de Campinas, que transmitiram a informação à Comissão de Direitos Humanos.
Diogo disse ter pedido ainda que testemunhas das mortes sejam ouvidas em outros locais e não mais no Setor de Homicídios, como tem ocorrido, para que elas não fiquem expostas. "A Comissão, juntamente com a ouvidoria da Polícia Civil, espera que, caso seja necessário, as oitivas sejam feitas em outros lugares para reduzir as chances de ameaças", disse.
O deputado federal Renato Simões (PT-SP), que também esteve na reunião com o diretor do Deinter-2, disse ainda que a Comissão de Segurança Pública do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH) vai visitar sete estados para promover discussões sobre chacinas. No estado de São Paulo, a audiência pública vai ocorrer em Campinas , mas ainda não tem prazo para essas visitas começarem a acontecer.
Investigações 
Após 15 dias dos 12 assassinatos em série ocorridos em Campinas (SP), a Polícia Civil rompeu o silêncio nesta segunda-feira (27), mas, ao invés de apresentar os primeiros esclarecimentos sobre o caso, que inclui duas chacinas, evitou responder à maioria dos questionamentos. O diretor do Deinter 2 disse que todas as linhas de investigação continuam abertas e, desconfortável, se negou também a comentar a hipótese de participação de policiais militares no crime. Suspeita-se que as mortes ocorreram por vingança ao assassinato de um PM durante tentativa de assalto na mesma região onde os homicídios sequenciais ocorreram.
Costa, que havia convocado a entrevista para falar justamente sobre a prisão de um dos suspeitos de ter participado do assassinato do policial militar, irritou-se com algumas perguntas sobre as chacinas e amenizou a possível participação de membros da PM nas execuções ocorridas entre os dias 12 e 13 de janeiro. " A Polícia Civil nunca disse isso [da participação de militares no crime]. A investigação continua com todas as linhas abertas. Não fechamos a porta de nenhuma ainda.", disse Costa. Os delegados responsáveis pela apuração estão proibidos de dar declarações públicas sobre o caso desde a primeira semana de depoimentos.
 Durante a entrevista, na delegacia Seccional de Campinas, a Polícia Civil apresentou Gullit Fernandes de Oliveira, de 22 anos, suspeito pela morte do militar Arides Luiz dos Santos, de 44 anos. O outro suspeito que teria participação no crime, um adolescente de 17 anos, entregou-se. O integrante da corporação foi morto durante um assalto na mesma região e horas antes do início das execuções, ocorridas em cinco bairros. Sem dar detalhes, Costa afirmou que as hipóteses de vingança, tráfico e execução são investigadas.
Sem respostas 
Sobre a demora para apresentar as primeiras respostas sobre o caso, o diretor do Deinter 2 disse que a equipe enfrenta algumas dificuldade. "Existem às vezes alguns obstáculos que terão de ser superados, tanto da investigação de campo e da inteligência policial, como também as questões dos laudos que tem um período para ficarem prontos.", justificou. Até esta segunda-feira, 52 foram ouvidos sobre o caso, entre familiares das vítimas, testemunhas e policiais militares.
 Os depoimentos prestados por 31 integrantes do Batalhão de Ações Especiais da Polícia (Baep), à Corregedoria da PM, também serão considerados nas apurações. Os policiais entregaram à corporação 31 pistolas 380 de uso particular para perícia, que será feita no Instituto de Criminalística da capital paulista. As armas têm o mesmo calibre das usadas na série de homicídios. Nos locais das chacinas, também foram achados projéteis de pistolas 9 milímetros.
Lista 
Na segunda-feira (27) uma operação conjunta da Polícia Militar e o Ministério Público prendeu três suspeitos de participarem de uma facção criminosa. Com um deles, foi encontrada uma lista com os nomes dos mortos nas chacinas dos dias 12 e 13. Segundo os promotores, os integrantes da facção estariam avaliando se alguma das pessoas que morreram fazia parte da organização criminosa para fazer uma possível retaliação contra os autores dos crimes.
As mortes 
Entre a noite de domingo (12) e a madrugada de segunda (13) 12 pessoas homens foram mortos em cinco bairros de Campinas, nas regiões do Ouro Verde e Campo Grande. Parentes e vizinhos das vítimas disseram que viram policiais militares na hora dos crimes. A Polícia Civil de Campinas e o DHPP investigam os homicídios. Vingança pela morte de um policial e "guerra" entre quadrilhas são duas hipóteses investigadas.  Os suspeitos da morte do PM foram identificados e estão sendo procurados.