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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

CADÊ OS DIREITOS HUMANOS?


O GLOBO
  • Parentes da soldado Alda lembram seus sonhos e lamentam falta de indignação da sociedade com o crime

Maria Rosalina acaricia a farda da Polícia Militar usada pela filha assassinada no Alemão: “Parece que eles (bandidos) têm mais valor”
Foto: O Globo / Pablo Jacob
Maria Rosalina acaricia a farda da Polícia Militar usada pela filha assassinada no Alemão: “Parece que eles (bandidos) têm mais valor” O Globo / Pablo Jacob 
RIO - Aos 27 anos, a soldado da PM Alda Rafael Castilho era o orgulho da família e a realização de um sonho. Era a primeira de um lar humilde da Baixada Fluminense que estava cursando o ensino superior (fazia psicologia) e tinha uma carreira promissora pela frente. No último domingo, ela morreu com um tiro, durante um ataque de bandidos à sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Parque Proletário, no Complexo do Alemão. Se a dor da perda é devastadora, a falta de indignação da sociedade tem abalado ainda mais a família. Principalmente a mãe da PM, a empregada doméstica Maria Rosalina Rafael Castilho, de 59 anos. Ela se queixa de não ter sido procurada por nenhuma ONG ligada aos direitos humanos. 
— Se eu fosse mãe de bandido, as ONGs teriam me procurado imediatamente. Parece que eles (os bandidos) têm mais valor. Mas a minha filha era uma cidadã honesta, que saía todo dia às 4h30m para trabalhar, estudava e sonhava em ser psicóloga da PM — reclama Maria Rosalina.
José Júnior: passividade vergonhosa
O coordenador do grupo AfroReggae, José Júnior, que sempre denunciou abusos cometidos por policiais, também reclamou da falta de indignação.
— Por ela ser uma policial, ninguém se indignou. Mas, se ela não fosse policial e estivesse num bar em frente, a repercussão do caso teria sido outra — diz José Júnior. — Não vi as pessoas das ONGs falarem da morte da policial. Ninguém da área dos direitos humanos se manifestou.
Num post de grande repercussão na internet, ele escreveu: “Só vi a polícia e o secretário de Segurança se manifestando. Todos nós nos calamos. Eu acho que ninguém merece morrer. A nossa passividade em aceitar essas baixas é vergonhosa”.
A morte da policial abalou toda a família. Depois de Maria Rosalina fazer um apelo, a PM mandou psicólogos ontem pela manhã para atender parentes de Alda Castilho. Um deles é Andressa, de 8 anos, sobrinha da soldado.
— Ela chora muito e diz que sente falta da tia — conta Aline, irmã de Alda.
A PM, que estava na corporação desde maio de 2011, e o noivo, o encarregado de pintura Thiago Lopes, de 30, planejavam se casar em 2015, após 13 anos de namoro. A casa estava sendo construída pelos dois no terceiro piso do imóvel de Maria Rosalina, em Duque de Caxias.
— Era a mulher com quem eu tinha planejado passar junto o resto da minha vida. Tínhamos vários projetos de vida. Viagens, casa, filhos — diz Thiago, bastante emocionado.
Maria Rosalina, que percorre mais de 50 quilômetros todos os dias para trabalhar, faz questão de dizer que sempre lutou pela educação das filhas. Alda se formou como professora, mas se decepcionou com as condições de trabalho. Também não lhe agradava a maneira com que as crianças tratavam professores e funcionários. Desistiu da carreira e começou a se preparar para a PM, mas sem falar com a mãe.
— Ela me contou apenas depois de ter sido aprovada (no concurso para a PM). Achei que ela não ficaria. Alda era muito magrinha, tinha a aparência frágil. Mas ela ficou e passou a gostar da polícia. Trabalhou em vários batalhões — diz Maria Rosalina. — Trabalhei duro para criar as minhas filhas. Agora, na hora em que colhia a primeira fruta, arrancaram a árvore brutalmente. Mas isso não vai me derrubar. Tenho esperança de ver as coisas melhorarem. Tenho um casal de netos e vou lutar pela educação deles.
Além de Alda e Aline, de 30 anos, Maria Rosalina é mãe de Amanda, de 29. Ela continua, mesmo sem despertador, acordando todos os dias às 4h30m, horário em que a PM saía de casa.
— Para mim, é a hora mais difícil do dia — diz ela, acariciando a farda de soldado da filha

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