Vereadores criticam prefeitura por parceria para revitalizar orla
O tema central da discussão foram as propagandas de cervejaria no Segundo Jardim de Boa Viagem. Equipamento foi requalificado com recursos privados
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Foto: Aguinaldo Leonel/CMR
Vereadores foram à tribuna da Câmara do Recife, na tarde desta segunda-feira (23), para criticar as propagandas de cerveja expostas em trechos da orla de Boa Viagem, na Zona Sul da capital pernambucana. A vereadora Michele Collins (PP) quebrou o silêncio, alegando que a prefeitura pagou um preço caro, apesar da iniciativa privada ter alocado R$ 12 milhões para a revitalização da área. Dois parlamentares saíram em defesa da obra, afirmando que foi uma solução criativa para um tempo de crise.
Indo à tribuna, Michele Collins elogiou o resultado estrutural da revitalização, com destaque para o segundo jardim de Boa Viagem, que recebeu academia da cidade e do idoso, parque infantil, pista de Cooper revestida de asfalto ecológico num circuito de 460 metros, terminal de autoatendimento 24h e conexão wi-fi. No entanto, a vereadora disse que se sentiu incomodada pelas propagandas da Skol espalhadas pelo local. "O Recife agora é a cidade da Skol, porque só o que tem na orla de Boa Viagem são propagandas dessa cerveja. Isso é um absurdo. O parque do Jardim de Boa Viagem é um espaço onde vão crianças, adolescentes. Como pode haver esse tipo de propaganda encorajando o consumo de drogas?", criticou a progressista.
A vereadora, que tem trabalhos na área de combate à drogas, elencou uma série de informações sobre o álcool, ressaltando as mortes ligadas ao consumo de bebidas alcoólicas. "O álcool mata mais do que a aids, mais do que a violência. Como pode a prefeitura promover uma campanha dessas? A revitalização do parque ficou muito boa, mas o preço foi muito caro. Nós não podemos aceitar", questionou.
O vereador Jurandir Liberal (PT), líder da oposição, endossou o coro dos insatisfeitos com a situação, sublinhando o caráter contraditório da parceria entre a prefeitura e a Ambev, grupo responsável pela cerveja Skol. "Como é que instalam equipamentos para prática de esportes e colocam, do lado, propagandas dizendo 'tome cerveja! tome cerveja!' ? Eu não entendo isso. O prefeito cria uma secretaria de combate às drogas e depois permite que sejam colocadas essas propagandas 'tome cerveja' na orla de Boa Viagem, em local público", criticou.
Foto: Andrea Rêgo Barros/PCR
A vereadora de oposição Isabella de Roldão (PDT) também se mostrou descontente com a revitalização. "Por que essas obras não foram implementadas em comunidades que precisam desses equipamentos? Em Boa Viagem, esses equipamentos serão sub-utilizados, porque a população de lá recorre a academias particulares. Deveriam instalar academias populares em comunidades como o Alto do Brasil ou Córrego do Curió", declarou Isabella.
Os vereadores Wanderson Florêncio (PSDB) e Romerinho Jatobá (PR) saíram em defesa da iniciativa, justificando que foi uma solução criativa tomada pelo gestor Geraldo Julio (PSB). "Acredito até que essa ação deveria ser feita em outros equipamentos da cidade, como os mercados públicos. Se o fator de ser uma cervejaria incomoda, pode-se discutir outra alternativa, mas o patrocínio em si fez bem pra cidade", disse Florêncio. O tucano ainda disparou críticas ao PT, afirmando que nas gestões dos petistas João Paulo e João da Costa, Boa Viagem não recebeu a devida atenção. Jurandir Liberal, por sua vez, retrucou contando que o PT foi responsável pela primeira requalificação da orla do bairro.
Romerinho, por sua vez, lembrou que a parceria com iniciativa privada beneficia a situação financeira vivida pela prefeitura. "Os R$ 12 milhões que a prefeitura teria que empregar para revitalizar a orla de Boa Viagem, agora, podem ser gastos em outras áreas, como a saúde ou a educação. A proposta é boa, embora entenda a luta da vereadora contra as drogas", definiu.
Segundo o site da Prefeitura do Recife, as obras foram viabilizadas com recursos privados, a partir de uma parceria com as multinacionais Ambev e Mondelez (antiga Kraft Food), além do banco Itaú e da Ferreira Costa, que investiram aproximadamente R$ 12 milhões na orla. Esse modelo de intervenção com participação da iniciativa privada é assegurado pela lei nº 15,906/94, que dispõe sobre a adoção de sítios e parques ecológicos por pessoas jurídicas de direitos privados, inclusive instituições com fins lucrativos.
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