Informação policial e Bombeiro Militar

domingo, 5 de abril de 2015

Nova explosão atinge sexto tanque de combustível em Santos


As chamas romperam o perímetro de resfriamento feito pelo bombeiros e já atingem quatro unidades de armazenamento de etanol e gasolina

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SÃO PAULO — O incêndio nos tanques de combustíveis da Ultracargo, na área industrial do bairro da Alemoa, em Santos, litoral de São Paulo, voltou a sair do controle. O Corpo de Bombeiros informou, no início da tarde deste sábado, que o perímetro de resfriamento foi rompido e as chamas atingiram o sexto tanque de armazenamento de combustíveis, este com gasolina. Agora, quatro unidades contendo etanol e gasolina estão queimando. Em outros dois tanques, as chamas se extinguiram depois que o combustível foi totalmente queimado. O trabalho de combate às chamas, que começou pouco depois das 10 horas de quinta-feira, ainda não tem previsão para terminar e já consumiu 4 bilhões de litros de água do mar. A estimativa é que o combustível dos tanques leve quatro dias para ser consumido totalmente.

 

Pela manhã, uma reunião entre representantes do Corpo de Bombeiros, Prefeitura de Santos, Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), Polícia Militar, Guarda Portuária e Ultracargo definiu que a estratégia de combate às chamas será mantida. Com a extinção do fogo em dois tanques, os bombeiros conseguiram se aproximar um pouco mais e estavam fazendo o resfriamento dos tanques vizinhos quando ocorreu a nova explosão. Novamente, a área de isolamento teve que ser ampliada.

A nova célula de combustível atingido possui três tanques. Além do tanque de gasolina que explodiu nesta tarde, há um de etanol e outro que, segundo a empresa, está vazio. Em nota, a empresa confirmou a nova explosão:

“A Ultracargo informa que o incêndio em parte de seu terminal em Santos atingiu mais um tanque, totalizando quatro neste momento. O quarto tanque é vizinho à área originalmente afetada e contém gasolina. Na mesma bacia de contenção há ainda mais dois tanques. Um deles está vazio e o outro contém etanol”, afirma a nota

No momento, os bombeiros aguardam a estabilização do novo foco de incêndio para retornar ao combate às chamas. Eles utilizam água e uma espécie de espuma. Cem homens com auxílio de 20 carros e o navio-tanque Governador Fleury seguem trabalhando no local. Caminhões-pipa da Sabesp também estão dando apoio as equipes.

Técnicos da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) ligada à secretaria do Meio Ambiente, estão monitorando o local. Segundo os técnicos, até o momento não existem indícios de grande impacto ambiental, embora alguns peixes mortos tenham surgido em riachos próximos ao local. Mesmo assim, ainda não é possível afirmar que o incêndio tenha causado a morte dos peixes. De acordo com a secretária estadual de Meio Ambiente, Patrícia Iglecias, se forem comprovados procedimentos indevidos ou inadequados por parte da empresa, a mesma poderá ser multada em até R$ 50 milhões.

A Prefeitura de Santos enviou mensagens de texto a 466 mil celulares e telefones fixos cadastrados. Na mensagem, os moradores eram avisados que o incêndio estava sob controle e a Cetesb monitora permanentemente a qualidade do ar.

O delegado Gaetano Vergine afirmou que apenas depois que o fogo se extinguir a polícia vai começar o trabalho de investigação para apurar as causas do incêndio.

Embora durante a madrugada deste sábado moradores tenham relatado aumento das labaredas, a assessoria de imprensa dos bombeiros informou que a situação está “mais controlada do que nos dias anteriores”.

O incêndio começou em um tanque de etanol e se alastrou para outras três unidades de armazenamento de combustível na região do Porto de Saboó. Na sexta, um quinto tanque foi afetado. Os tanques pertencem à empresa Ultracargo e continham entre 5 milhões e 10 milhões de litros de etanol, gasolina e diesel.

Ao perceber que, mesmo com o uso de um navio-tanque, a água evaporava antes de alcançar os tanques em chamas, os bombeiros passaram a concentrar os esforços em resfriar os demais tanques para evitar que o fogo se espalhasse. A temperatura chegou a 800ºC, e as chamas atingiram 50 metros de altura.

Na quinta-feira pela manhã, duas pessoas foram levadas ao hospital mais próximo, uma delas com intoxicação e outra em estado de choque. Um duto da Ultragás, vizinho ao local do acidente, chegou a ser inspecionado, mas ainda não se sabe se foi atingido. Um trecho da rodovia Anchieta, perto do local, foi interditado para evitar riscos.

Em nota, a Ultracargo informou que as operações de resfriamento dos tanques vizinhos à área afetada pelo incêndio "continuará sem interrupção".

"A estrutura dos tanques atingidos pelo fogo foi severamente afetada, o que torna mais complexa a operação de contenção do incêndio. Quinze pessoas foram atendidas no local e liberadas de imediato. Não há vítimas ou feridos entre os funcionários da companhia e equipes de combate ao incêndio", diz o comunicado.

A Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) informou que a área atingida fica fora da região do sistema portuário de Santos. A empresa informou que a área é privada e administra por ela. De acordo com a Ultracargo, os tanques atingidos pelo incêndio armazenam etanol e gasolina e ficarão “queimando até o final das chamas”. Na quinta-feira, em nota, o presidente da empresa, Ricardo Catran, disse que “é prematuro ainda qualquer afirmação sobre as causas” do incêndio.

GABINETE DE CRISE

O governo do Estado de São Paulo decidiu, neste sábado, montar um gabinete de crise em Santos para acompanhar e tomar providências com relação ao incêndio no bairro Alemoa. Integram o gabinete o vice-governador, Márcio França, os secretários Saulo de Castro (Governo), José Roberto Rodrigues de Oliveira (Casa Militar), Alexandre de Moraes (Segurança Pública) e Patrícia Iglecias (Meio Ambiente), o comandante do Corpo de Bombeiros, Marco Aurélio Alves Pinto, e o subsecretário de Comunicação, Marcio Aith.

A prefeitura de Santos já havia montado um esquema de monitoramento com reuniões duas vezes ao dia sob coordenação da Defesa Civil de Santos e com o suporte de equipes de Saúde, Meio Ambiente e Segurança.

Segundo nota do governo, uma equipe com 93 homens do Corpo de Bombeiros se reveza no combate às chamas e no resfriamento dos tanques, para evitar que o fogo se propague. Além disso, brigadistas da Ultracargo e da Petrobras e homens do Plano de Auxílio Mútuo, brigada formada por funcionários de todas as empresas da Alemoa, trabalham no combate ao fogo.

“Na tarde desde sábado, o incêndio está contido, mas não controlado”, informou o governo.

O diretor de infraestrutura da Codesp, Paulino Vicente, informou que o incêndio já afeta a operação de todos os terminais do porto e reflete nas vias públicas municipais. No entanto, o Canal do Estuário está interditado apenas do Saboó para o fundo da Alemoa. E, com o término da ocorrência, a Codesp prevê retomada imediata das operações.

FUMAÇA PODE AFETAR SERRA DO MAR

A fumaça tóxica gerada no incêndio poderá causar danos ambientais na Serra do Mar, segundo o especialista em gestão de riscos da Coppe/UFRJ Moacyr Duarte.

— Em razão da alta temperatura, a fumaça contém uma quantidade de gasolina que não queimou. Ela vai bater na Serra do Mar, coberta por mata protegida, e, certamente, gerará algum nível de contaminação, principalmente em pontos de água depositada. A contaminação ambiental, pelo ar, já é inevitável— explicou Duarte.

Segundo o especialista, o papel dos bombeiros nos próximos dias é evitar que a contaminação também ocorra por meio do sistema de drenagem dos tanques, que desemboca no mar. Como a estrutura da planta industrial está ameaçada, há risco de material tóxico vazar para a água, localizada bem perto do local do acidente. Segundo ele, os bombeiros deverão trabalhar para evitar o desastre ambiental.

— Não há grande preocupação de intoxicação no entorno, porque a fumaça sobe em função do calor gerado, deixando de afetar diretamente quem está nas proximidades. Ao mesmo tempo, é provável que ocorra deposição de material particulado em um raio entre três ou cinco quilômetros. Várias casas deverão ficar sujas com aquelas películas pretas — afirmou o especialista.

Para Duarte, pelo fato da fumaça não ser de alta toxidade, deverá incomodar apenas “populações sensíveis”, como grávidas, crianças pequenas, idosos e pessoas que sofrem de asma e bronquite ou são alérgicas.

A EMPRESA

A Ultracargo pertence ao Grupo Ultra e opera com estocagem de produtos químicos, petroquímicos, etanol e óleo vegetal. É a maior empresa do país nesse ramo, possuindo instalações estratégicas nos portos de Santos (SP), Rio de Janeiro (RJ), Paranaguá (PR), Aratu (BA) e Suape (PE), além de terminais em Paulínia (SP) e Itaqui (MA). O Grupo Ultra é dono também da Oxiteno, empresa de produtos químicos; da Ipiranga, rede de distribuição de combustíveis, além da Ultragaz, distribuidora de gás de cozinha. Também faz parte do grupo a rede de drogarias Extrafarma. No ano passado, o Grupo Ultra teve um lucro líquido de R$ 1,251 bilhão, um crescimento de 2% em relação a 2013, quando o lucro chegou a R$ 1,229 bilhão.

HÁ 30 ANOS, 93 PESSOAS MORRERAM EM INCÊNDIO

O incêndio nos terminais de combustíveis da empresa Ultracargo fica a poucos quilômetros de Vila Socó, em Cubatão, cidade vizinha a Santos, onde há trinta anos aconteceu a maior tragédia de incêndios a terminais de combustíveis.

Em fevereiro de 1984, a explosão de um duto da Petrobras causou incêndio incontrolável que se estendeu por dois dias e deixou, ao menos, 93 mortos. A maioria das vítimas foi de moradores da Vila Socó, no bairro de Vila São José. A favela que tinha cerca de 600 barracos ficou completamente destruída. Na época, entidades e testemunhas afirmaram que o número de vítimas fatais chegou a 400.

Assim como o local do incêndio desta quinta, a Vila Socó ficava à margem da Anchieta, próxima a uma região de mangue. No local, moravam pouco mais de 6.000 habitantes distribuídos em cerca de 600 barracos, segundo os dados divulgados pelas autoridades na época.

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